terça-feira, 29 de novembro de 2011

gato negro.

a grande felicidade da vida consiste em sabermos que nada dura pra sempre. que o tempo é transitório e que leva embora tudo o que acontece. mas podemos nos perguntar: porque uma felicidade não dura pra sempre? ora, imagine que quem fosse feliz, fosse sempre feliz. neste caso, quem fosse triste, o seria pro resto da vida também. e é aí que está a mágica de viver. saber que assim como as alegrias passam, as tristezas também se vão. e levam com elas dores, sofrimentos, momentos ruins, situações desagradáveis. o choro, a insegurança, a raiva, a agonia, a tristeza... todos eles são levados embora pelo tempo, imbativelmente.
a arte de terminar uma fase é algo que se deve saber degustar. como aquele bom vinho, que a gente toma com alguém especial, ouvindo uma música leve, sentados numa sala com almofadas e uma varanda com a vista aconchegante ao fundo.

mas degustar a vida é para poucos, Alice. e disso você também já sabe!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

pra onde tenha sol... é pra lá que eu vou.


num dia desses eu vesti o meu pulôver, caminhei até a cozinha escura e destranquei a porta de jacarandá. caminhei pelas pedras nuas em torno da piscina, puxei aquela cadeira e me sentei de fronte ao sol. abri o polôver e deixei o sol penetrar cada poro da minha pele branca. recostei, joguei a cabeça pra trás e fechei os olhos.
enquanto o sol me invadia a mente, me imaginei na praia. eu podia sentir a brisa e o mar de ipanema, azul celeste, quebrando ao meus pés, com aquelas ondas de pontas brancas e espumantes. via as ilhas cagarras ao fundo do cenário, com gaivotas voando ao longe. olhei as pessoas na areia, aquela areia sempre cheia de gente, independentemente da época do ano. observei cada gesto, cada sorriso, cada pitada de felicidade. aquelas pessoas do mundo todo, aquela gente brasileira, com sua pele exposta ao léu, com seu remeleixo estampado na cara, puro swing.
os prédios do outro lado da rua continuavam com um ar cosmopolita. e os cafés em seu entorno, tão chics, tão vitorianos, esbanjavam todo o charme do mundo. os coqueiros balançavam na lenta velocidade do vento, as pessoas caminhavam pra lá e pra cá, no meio dos carros, da ciclovia, no calçadão, nos kioskes, atravessando a avenida. e ali estava eu e meu corpo, se bronzeando naquele sol escaldante, sentindo o sol que aquece a vida, que aquece nossos sonhos, nossos desejos; sentindo o sol que está longe, sempre dentro de todos nós, esperando pra nascer.

Alice mora numa rua de pedras fria no interior do Rio Grande do Sul.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

sonho.


hoje eu só quero me deitar debaixo do vento, fechar meus olhos e pensar em você.
e os meus ímpetos, tão loucos... me levam, me conduzem, me perplexam, me deixam atormentadamente sem ar.


terça-feira, 26 de julho de 2011

mistério do planeta.


os poetas foram jogados aos cadafalsos. as mais belas melodias, jogadas ao vento. tudo que um dia foi, tudo o que é: nada jamais será. enquanto o vento paira sobre os guetos arruinados de um velho amor cheio de rugas e cicatrizes, eu ouço você cantar no alto de uma varanda do sexto andar.
é a doce brisa que insiste em se entranhar no meu cangote suado, o mesmo que você insiste em beijar deliberadamente. eu fecho os olhos e sou toda luz, toda música, toda fronteira. são apenas milhões de pequenas-coloridas luzes, doces venenos que se escondem no marrom dos seus olhos.
eu e essa prosa prosaica que esconde a minha vontade de te levar aos lugares mais inusitados e boêmios do centro da cidade. vai ver que é porque você tem esse ar urbano, ao mesmo tempo que nasceu na Bahia, morou no Pará ou na Nova Zelândia. Vai ver é o seu perfume meio âmbar que me embebedou. Vai ver, vai saber: no fundo é só mais um mistério desses da vida, dessas loucuras que não sabemos de onde vieram ou pra onde vão nos levar.

terça-feira, 5 de julho de 2011

desconsertamento.


dai-me Deus, uma dose de esquecimento
um prozac pro o sentimento
um conhaque que cure a dor.
um esmalte pra cobrir as garras
meia arrastão pra esconder as caras
maquiagem que esconda as olheiras
um bom papo des-farçando bobeiras
na frente do espelho.




dai-me Deus
amigas pra mascarar
quando aquele olhar eu buscar;
salto alto pra poder pisar
nos corações alheios
que ousam o caminho cruzar.
porque nessa noite
a noite é minha
a noite é só
eu e a lua
e o meu conhaque
e o meu prozac
e a dose de esquecimento
e o desalinho desalento
e a lembrança do esquecimento
da noite que era dele.

um poema do esquecimento
pra paginar o momento
pra se eternizar
desconsertamento.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O sorriso da Monalisa.


Se seremos alegres ou tristes, não sei. Não poderemos saber disso, enquanto nascer o sol a cada novo dia. Não poderemos descobrir, mesmo debruçados sobre a janela chamada presente, tentando enxergar sem óculos o quintal do futuro lá fora.
O que sei é que há coisas que vão nos machucam pra sempre. Que nunca se vão, nunca nos deixam. Estão ali, guardadas, só para fazer doer aquela ferida que achávamos já ter curado. Ai de nós. Elas se pronunciam nos dias em que o cinza toma conta do céu. Nos dias de pôr-do-sol alaranjado e nos dias de ventania. Nos machucam e nos tornam duros, firmes, indolores, quando não mais somos capazes de sentir.
Mas o que sei, debaixo desse céu e em cima desse chão que piso, o que sei, é aquilo que todos deveriam saber: enquanto toca o Le Banquet, do Yann Tiersen, eu danço. Por dentro. Dançamos. Dançastes. Ou pelo menos deveria dançar. E sempre vai haver uma dança, proporcional a todos os espinhos de todas as rosas desse mundo.

sábado, 9 de abril de 2011

in-consciente.


Escrevo meu livro enquanto a Janis chora seu blues. Lasanha com mousse de morango nunca foi tão bom como quando compartilhados com amigos à mesa. A lua está alta, o vinho em temperatura ideal. E enquanto o vento urge no estuário da Lagoa dos Patos, ele me encontra, me gela os desejos e me deixa mais saudosa do que não vivi.
A Janis e seu blues tem sido meus melhores amigos nos últimos tempos. Até mesmo quando Foucault tenta se introduzir nos meus pensamentos, me vigiando e punindo. A loucura nos beija os lábios, nos acarinha o rosto, mexe no meu cabelo. Ela nunca esteve tão real.
E viver nunca pareceu tão fácil. E essa Alice, feita de carne e alma, osso e personalidade, vai subir no salto e descobrir a noite - quando não mais a noite já existe, nos seus sonhos mais profundos.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Carnivale.


Não tenha medo do seu futuro destemido, pequena grande Alice. Ah, esse futuro que te dá rasteiras e sempre te estatela no chão. Não tenha medo das pessoas que não têm sonhos Alice. Pois de tantos sonhos não possuírem, tentam tornar pesadelo os sonhos dos demais. Ah Alice, não tenha medo do carnaval. Esse carnaval de que é feita a sua vida, cheio de serpentinas coloridas (não das laminadas!), cheio de confete e cerveja adoidado. Cheio de fantasias felizes, marchinhas tocando ao ritmo do Los Hermanos. Tão bonito é ser Alice. Poder brincar com Humpty-Dumpty aos 20, poder comer um cogumelo pra crescer e regredir quando bem temos vontade. Mas quando as portas ficam pequenas pra todo o seu tamanho, Alice, não temas. Há sempre mais cogumelo, mais sonhos, mais carnaval, mais serpentinas coloridas, confete e cerveja. Sempre há fantasias felizes e marchinhas - e sempra haverá Los Hermanos.






"ter fé e ver coragem no amor..."

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

à segunda vista.

no meio da rua cheia de gente ela disse que achava lindo o menino do outro lado, com cara de argentino safado. ela tomou um gole da caipirinha com bastante açúcar, encarou-o, tragou o cigarro e desviou os olhos com um jeito de que ele no mundo não importava tanto.
entraram. e enquanto ela dançava, ele se aproximou e beijou sua amiga.
foi no banheiro, retocou o batom e pensou naquele natal infame como se fosse o pior de sua vida, num Pub sujo nos undergrounds da cidade; e ainda haviam cinco cervejas no balde a serem liquidadas. é o que tinha pra hoje.
afastou-se. foi até a mesa mais longe, do canto mais longe, o mais longe possível da luz. sentou. outro cigarro acendeu, pensando que havia odiado o que papai noel trouxe nesse natal: um saco, dos grandes e bem vazios.
daí veio um cara com o sorriso bonito e disse umas palavras baratas. ignorando, pensou "que saco". na penumbra não dava pra ver muita coisa. só deu pra ver quando ela se apaixonou à segunda vista e saiu de mãos dadas de lá com o moço do sorriso. azar ou sorte? só a vida vai dizer.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

infância.


Era uma vez uma menina pequenininha. Aí um dia ela cresceu e quis abraçar o mundo. Fim.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

ausência.

Você pode ter todas as palavras do mundo nas mãos e no pensamento, mas elas de nada adiantam quando se perde o chão. Elas simplesmente se foram, e eu fiquei ali, olhando pra baixo e procurando um fundo debaixo do meu all star que não mais existia.
Estranha sensação essa de se ter tudo e de uma hora pra outra não ter mais nada. Não materialmente falando, mas subjetivamente, só o que me restam são essas palavras que, agora, nada servem.

"Essa vida é uma viagem
pena eu estar só de passagem."

Leminski, P.

a-provação
























Alice vai morar no Rio Grande do Sul. Alice passou no vestibular =)