domingo, 1 de dezembro de 2013

bacia hidrográfica

tenho permanecido num estado constante de desidratação. nos momentos de sobriedade, a água do corpo me escorre pelos olhos. nos momentos de embriaguez, perco mais água. diureticamente.
é um fator importante esse da água pro ser humano. contê-la. quando, a qualquer tempo ela não cansa de querer nos abandonar, é por que algo não anda muito bem.
aliás, é por que algo quer correr de ti incansavelmente. correr pra longe, depois de ter gritado e gritado. o abandono líquido é o último suspiro de um corpo agonizante.

a saudade é uma coisa abstrata. mas a gente sabe que ela existe quando se materializa escorrendo pelos olhos.
os olhos são a janela da nossa alma. a alma é uma coisa abstratamente não provada. mas se ela existir, com certeza se encontra maculamente negra quando as janelas insistem em ficar fechadas.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

o tic-tac do relógio e as divisórias de pvc são típicas. é o tédio, tomando conta de novo de tudo. essa luz artificial fluorescente, o reflexo da tela do computador. os processos ora capa rosa, ora capa azul. amargas abstrações de um dia de rotina.
as unhas estão descascadas. o rosto oleoso. nada mais se parece com a sexta-feira de luzes. nada mais parece tão vago e oblíquo. é só cinza no céu. o veranico se aproxima do fim. as nuvens brancas, no meio de um acinzentado tão homogêneo, só me faz lembrar o sentimento de ondas me atropelando. a boca seca. as cutículas sendo arrancadas. as caixas de arquivo, o barulho do trânsito pelo vidro. o ar condicionado, mecânico, a ranger incansavelmente.
cadê meu ansiolítico?

sexta-feira, 3 de maio de 2013

dia chuvoso

chegar molhado do trabalho
chuveiro a gás
moletom confortável
chocolate quente
edredom
filme
fim.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

todo dia ela faz tudo sempre igual.

existem segredos guardados na parcela de tempo-espaço do cotidiano. sorrisos que surgem das satisfações do dia a dia, das realizações pequenas que movem a vida. é interessante observar o caminhar das coisas, o desenrolar da existência; o nicho ecológico humano nesse mundo de cabeças pensantes (algumas, porque nem todas) tentando interferir na natureza de tudo aquilo que parece não pensar.
há um mistério entre as muitas xícaras de café ou copos de Toddy que tomamos todas as manhãs. ele está boiando no leite junto com o seu cereal, está elíptico nas notícias do jornal de cada dia. ele é o caos que faz o trânsito fluir no mundo inteiro, as luzes acendendo e apagando numa dança quase simétrica; ele é o que há entre o amanhecer em um lugar e o anoitecer em outro.
há quem diga que a felicidade é isso. saber enxergar a ordem do que acontece todos os dias sem que nossos olhos percebam. usar uma lupa para aumentar tudo aquilo que passaria direto sobre a nossa visão limitadamente enviseirada. ora, se até huxley disse que nosso cérebro apenas processa uma parte ínfima do que percebemos do mundo exterior, justamente porque somos humanos demasiadamente para absorver todas as informações, sensações, visões e sentimentos ao mesmo tempo... quem sou eu pra desmentir?