segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

metalinguagem

esta página, correu meio mundo para ser escrita. acordou sozinha de ressaca umas tantas vezes. sozinha também se criou. precisou de um pouco de coragem, um punhado de amigos e de uma caneta azul. era uma página que sonhava. queria mesmo era fazer revolução: reescrever todas as páginas do mundo em sua melhor caligrafia. era uma página arrojada, gostava do novo, de ouvir discos e cozinhar os pontos finais. manchou-se, certo dia, essa página desastrada. foi um grande estrago, corretivo nenhum resolvia. teve de refazer os rabiscos e desenhar com outras cores. gostava de mar, a página silenciosa. era discreta, porém potente. carregava o peso de uma história temperada com lágrimas e coentro. não gostava de maiúsculas. achava que eram todas cheias de si, sempre querendo chegar na frente dos outros. tinha garra, essa página. levava um pouco de luta nos braços e gás de pimenta na garganta. tinha o carnaval no coração e uma fábula em seu nascimento. foi contemplada com romances - mas só aqueles nos quais valia a pena emudecer ou cantar e que precisavam mesmo é ser contados. perdeu alguns anos em prosa, mas dedicou toda a sua existência em poesia.