quarta-feira, 30 de agosto de 2017

desrevolucionários.

ali, bem atrás do castanho, atrás da piscada de cílios compridos - eu te vi. no fundo dos olhos, vi imensidão. a profundidade tão verdadeira que dolorida, tão real que corta fundo. a essência, a coragem. por na conta o peso do mundo, as responsabilidades da vida. leve como um instante, uma fotografia e ainda pesa uma tonelada. tem o peso do sorriso que arranquei de você, tem o peso de uma lágrima - ou de muitas. pesa o abraço não dado, a faculdade não terminada, o quarto vazio, pesa o peso da ausência do seu cheiro natural que fica grudado em mim. pesa tudo aquilo que ainda não vivemos, as conspirações que não saberemos. é leve como uma efemeridade e profundo como poderia ser a própria eternidade. o instante que nunca acaba, a luz que não apaga, enquanto a gente ri dos outros madrugada adentro e depois se pergunta por que dormimos tão pouco. me atrasa o trabalho, quando te peço pra que faltes o teu: mendigos da felicidade que causamos, num mundo onde tantos estão obcecados em penas, condenações e em objetivar a dor. a chama que queima e diz tanto sobre nossas almas inquietas. intensas. que não suportam as representações de papéis casuísticos do eu. que se entediam com o estabelecido, que sentem a vida, vivem a poesia, poetizam o sofrimento, sofrem sorrindo, e sorriem mascarando uma existência tão linda e tão implacável. a implacabilidade da vida requer coragem. e com a coragem de tanto dolorir, inundamos o mundo com a nossa esperança. meu mundo, teu mundo, o mundo deles, imenso mundo. tão meu, seu, nada pra eles - que cabe entre o vão das suas mãos na minha cintura, no espaço que sobra entre os nossos lábios. tão enorme que ínfimo. tão grandioso que cabe na sua generosidade em me poupar, na tua preocupação em me preservar, em insistir pra eu não ficar, pra não te escolher, pra não te mostrar uma vida inteira dentro dos meus olhos, pra não enxergar uma vida inteira dentro dos teus, pra não te dizer o que penso, não sentir o que sinto, pra te tornar alguém alheio, quando o único locus temporal que você poderia estar é dentro de meus pensamentos. dormindo seu sono pesado no meio dos meus braços. seu superdespertador sempre nos deixando na mão e nos permitindo momentos de lânguida preguiça. a porta da minha casa, passos, degraus, a porta da liberdade aberta e a comarca do rio de janeiro assistindo a gente acontecer no meio do caos e da boniteza infinita que guardamos dentro da gente.