eu já te disse o quanto era injusto lidar com a sua existência. mas até esses dias de junho, ela nunca me pesou tanto os ombros. observar essas ruas que guardaram tantas das nossas andanças; o restaurante mexicano com aquela quesadilla vegetariana e uma mixelada num domingo qualquer. o posto de gasolina onde você comprou tantos kitkats com coca-cola pra gente assistir intermináveis episódios no netflix. e o metrô, onde eu sempre estava indo ou voltando pra te ver.
há alguns dias vi você me observando. estava conversando com um amigo e sentia o seu olhar me seguindo onde quer que eu fosse. todos os nossos amigos teceram comentários sobre o quanto você me olhava. e nesse mar de disfarces, nesse baile de máscaras pitoresco, terminamos sendo aqueles que nos trancamos em casa sozinhos pensando um no outro, mas que fingimos nunca ter existido. tornamo-nos tão hipócritas quanto esses casais por aí, que são de plástico e insistem em aceitar a vida e suas variações bizarras. aqueles que se sentam em bares com caras tristes de tédio ou então de saudade, lidando com as conformações de infindáveis meias felicidades.
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