domingo, 13 de maio de 2012

hard times help me see - shadow days.


ontem acabei meu seriado favorito. me senti frustrada porque ele simplesmente não acabou com o capítulo final. na verdade, foi cancelado, o que explica que muitas histórias ficaram por terminar. isso me fez refletir sobre as nossas histórias. essas que vivemos no dia a dia, no meio de canecas de café e de sonhos que são interrompidos. me dei conta que muitas vezes as coisas não terminam, são interrompidas. porque nem sempre estamos prontos de corpo e alma para o capítulo final.
afinal o que é um capítulo final? a mocinha, no final, ficou com o mocinho. mas eles foram morar juntos e têm problemas de relacionamento, como quem ganha mais ou quem vai cuidar do cachorro. o milionário deixou a cidade e foi morar no interior, enquanto sua companheira largou a carreira de cantora para ser garçonete de um bar - e estão felizes. no dia do casamento, um raio caiu no noivo. ele perdeu a memória e a noiva acabou se apaixonando por outro. e continuou com o outro quando ele lembrou de tudo. o andarilho se apaixonou, mas a sua paixão já tinha dono e por isso ele foi buscar o mundo. a garota da cidade se apaixonou pelo cara do interior. e foi morar lá com ele. são histórias de vidas normais, sem capítulos finais. são vidas que se entrelaçam, que lançam suas histórias no universo. mas que não pedem um final feliz. só pedem a oportunidade de continuar acontecendo, a chance de poder acontecer.
é engraçado quando percebemos que a vida pode imitar os filmes, ou vice versa, mas que ao contrário dos filmes, o "felizes para sempre" é uma coisa bem abstrata quando se trata do mundo real.
o amor é algo singular e sutil. acontece quando a chuva cai, quando aquele café que alguém preparou esquenta nosso coração. é incrivelmente sutil como um olhar, ou como quando alguém chora de um lado e alguém só escuta do outro. o amor é silêncio. ele acontece nas entrelinhas de um relacionamento. ele é a lareira acesa no inverno, é apoio, mas pode ser só um sorriso.
e sabe o que é melhor? o amor não precisa de fórmula. ele não precisa ser "feliz para sempre". porque convenhamos, ser "feliz para sempre" é um saco ! o emocionante da nossa jornada nesta vida é notar nas gotas da chuva o quanto o amor que possuímos escorre pelos dedos, quando a gente não espera. ele não vem bordado de paetês e luzes de neon. ele consiste simplesmente em continuar coexistindo com todas as adversidades da vida.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

iluminações de um dia de chuva.


enfadonhas meninas de laços róseos conversam futilidades enquanto seu batom vermelho-sangue circula pela noite, fazendo seus saltos dedilharem uma melodia no asfalto. você mergulha na escuridão das luzes neon, em busca de um amor asfixiante, de um esmalte mais brilhante, de uma bebida mais forte, de uma droga que entorpeça.
de que serão feitas essas mulheres do próximo século? exibem suas cabeças pensantes com seus negros fios de cabelo como um estereótipo à tiracolo; exibem seus cílios cumpridos e marcados pelo rímel, demonstrando em seus decotes toda a sabedoria que não foi perdida com o blondor ou com sua vaidade. elas ouvem música boa, de letras tão profundas quanto um apple martini. e leem livros de tolstoi. elas assistem filmes do fellini. amam os do almodóvar; choram nos do woody allen. elas amam o bigode do leminski. e aquele cigarro alonga sua essência de cereja por onde quer que passem. a fumaça que dele se desprende só demonstra uma coisa: o reflexo de sua alma, que de tão carregada de sábias opiniões flutua sobre os cristais de gelo do pensamento alheio.

ah, mulher do próximo século! seus lábios rubros são um grito de revolta no momento em que ecoa o barulho dos seus saltos pelo mundo. suas meias arrastão têm tanto a dizer sobre tudo e todos que guardam segredos imensuráveis do universo. sim, eu sei o que você esconde embaixo dessas longas garras negras: um mundo de aventuras que se congelam no espaço-tempo aguardando o momento de acontecerem.
mas você é fogo, mulher moderna. se uma cápsula do tempo te levasse ao passado, você inventaria a calça e botaria fogo nas igrejas e nos palanques. queimando por dentro, sabe onde ir, o que fazer, e até que ponto deve ficar. e quando chega a hora, some como um gato negro pelas sombras dos becos e ruelas da cidade grande que é o seu coração. seu delineador é uma serenata solitária protagonizada pelos seus olhos de gato. eles cantam a noite e o sonho, aquele que você conhece se afogar numa dose de burdock.
e isso é você, mulher-brilhante. um conjunto de beleza alva exposta às vestimentas negras, o contraste entre o branco e o preto, desenhando seus lábios de rouge no céu eterno da cidade. você é fogo que arde na madrugada, gritando no silêncio de um gole a mais.