terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

vista pro mar.

eu vi o sol nascendo cor de rosa no seu quarto interativo. o vento era fresco, ainda tinha gosto de vinho, ainda tinha a gente no meio do mar de edredons. lembrei de você com o barulho da chuva caindo e ouvi Pérola Negra mil vezes pra esquecer. tomei um café, sentei aqui e divaguei. por onde será que andava sua alma livre? e o mar nos olhava pela fresta da janela. tinha poesia escrita nas paredes. tinha uma coleção de discos que eu queria ouvir todos. eu queria devorar você. te fazer pele, te deixar cheiro. porque quando a gente não explode pra fora, só tem dois jeitos da gente não sucumbir: ou a gente vira lágrima ou a loucura nossa loucura vira letra. pinga a chuva e eu lembrando que quando você me olha, passa aquele automotor que me atropela, que me faz delírios. e eu me perco nessas horas ouvindo Silva e fazendo disso um oceano, numa eterna vista pro mar.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

encontros e despedidas.

"quis Deus - Oxalá ou o Diabo, a Pachamamma, o Cosmos ou o Universo, que eu viesse a este mundo como filha de Iansã. esse sangue de fazer acrobacias e esse ímpeto de ser tempestade, já o sentia desde pequenininha quando batia o vento nos cabelos pela janela do carro, quando montava no pangaré Desenho pelo sítio. e esses insights tipo raio, esses olhos cor de nuvem chuvosa prontos a descarregar o gatilho da alma e a inundar o peito. e esse ascendente em sagitário louco que me coloca a buscar caronas e transforma em lar os lugares que passo, as cidades perdidas, as rodoviárias e aeroportos do mundo, a fronteira entre esse país que mal cheguei mas já estou partindo e aquele país que nunca fui mas considero pacas. e uma fome sem tamanho de devorar gastronomias, melodias, arte, pintura, museus, trilhas, montanhas, praias, cenotes,
sorrisos, políticas e pessoas. sou aquele vento que precede a chuva que chegou e já está indo, que se vai mas deixa a anunciação. as casas que já morei, as histórias que já contei a mim mesma que já passei, os livros que já vivi e os olhares que eu já li: reflexos, espelhos, as faixas amarelas na estrada, as gotas de umidade correndo velozes pela janela do vôo, o capim que balança quando a gente passa acelerado pisando firme e deixando pra trás passos e passionalidades. esse sentir tão infinito que nos faz ansiosos, tão resguardado que nos torna calmos. a luz da manhã invadindo o quarto, a mochila nas costas para o próximo destino. next stop: as infinidades dessa nossa breve e intensa existência humana".