domingo, 29 de novembro de 2015

mulher; demasiadamente mulher.

esses dias achei um fio de cabelo branco. não sei se é o primeiro ou se é só mais um dos loiros que insistem em brotar no meio de uma cabeleira castanho escura e densa. nesses dias, percebi que meu corpo está encorpado, que meus quadris estão preenchidos, tão diferente das nuances de menina magrela de 17 anos. ultimamente, uso roupas mais sóbrias. tenho preferido o conforto de um bom sapato que vai consolar meu humor no fim de um dia de trabalho a uma ancle boot dextruidora (de pés). também aprendi a gostar de unhas curtas, de cores clássicas. adquiri um ar sério com óculos de grau de armação preta e uma marca de expressão na testa, franzida, meio que de preocupação. passei a apreciar tinto seco com o acompanhamento de um pijama de algodão, um bom livro e minha própria companhia. lá por essa época, também descobri o prazer de ir à feira aos domingos e preferir orgânicos a junkfood. ou de ficar em casa num dia nublado só ouvindo o barulho da chuva bater na janela. ou de ouvir meus vinis. ou o meu vizinho músico tocar piano ou violino ou violão e deduzir as melodias que ele toca quase todos os dias. dia desses, me peguei ouvindo blues enquanto cuidava da casa. planejei uma horta vertical enquanto tomava um café puro e amargo. aliás, descobri a infinidade da diferença entre o arábica e o conillon quando decidi que o açúcar não esconderia mais o amarguinho da vida. passei a apreciar molho pesto e a persegui-los pelos restaurantes mundo afora, a reconhecer o valor do trabalho das pessoas e a agradecer quando isso me agradava. sondei meus limites e aprendi a me permitir dizer não. a não me negligenciar como mulher, a não me deixar levar pela vontade dos demais. me tornei firme em minhas posições, porém não inflexível. conclui que se posicionar é fundamental para que não te confundam com o outro lado, mas que adotar um lado nem sempre significa decretar guerra ao outro. passei a enxergar dinheiro como um meio para se alcançar certas coisas, porém nunca um fim. passei a usar esse dinheiro da mesma forma, fazendo viagens e tendo experiências que nunca caberão na fatura do cartão de crédito. aprendi que nada paga o preço do enriquecimento de uma viagem, mas que é imprescindível ter um lugar pra voltar, no qual a gente pode afundar num mar de lençóis limpos e travesseiros confortáveis. percebi que pessoas vêm e vão, mas que fazê-las ficar depende apenas de nós; essas mesmas pessoas que ficam são aquelas que queremos nos esperando com um macarrão pronto ou com o motor do carro ligado no aeroporto, cheias de amor, quando voltamos daquela viagem.