sexta-feira, 23 de outubro de 2015

soroche

ou uma tatoo pra chamar de minha

toda a instabilidade estomacal passou. e agora já não faz diferença o clima seco dos Andes, o mal estar do altiplano ou a umidade do Rio. já não importa se é julho ou setembro, porque os raios de sol andam por aí me procurando, emancipados de estação. já não me importam seus apelos, seus caprichos. seus jogos de tabuleiro, seus xeque-me-mates. tampouco me fazem hesitar ou questionar. hoje quando desembarquei o sol me sorria como um cortejo. me acarinhava macio a pele. hoje quando senti esse ar cheio de amor da cidade maravilhosa, quando, em casa, o Chico cantava no rádio do aeroporto coisas sobre uma moça estar diferente - hoje eu te esqueci. foi no hoje que deixei cair as máscaras, as luvas, o não-me-toques. no hoje realizei depósitos das minhas fichas, apostas, (in)certezas. perdi no jogo, no azar; mas fui premiada na loteria do meu amor muito meu, das infinidades da graciosidade humana e seu mil e um sabores e feitiços. abandonadas no ontem as lembranças brilhantes do tempo as quais fazem parte. esqueci nas ruínas de uma cidade perdida o nosso último e derradeiro elo: o medo. encarei o sol nascente, raios enfim vencidos por uma fome de devorar a vida sem tamanho. rugindo, urgindo, bradando a essência de mim mesma, foi nesse dia em que te esqueci. e ao confundir-te com tantos e tantas, sedentos e sorridentes, vislumbrei a grandiosidade disso tudo: nós somos infinitos.